quinta-feira, 13 de janeiro de 2011

AS JANEIRAS...


Pelo terceiro ano consecutivo a Associação Humanitária dos Bombeiros Voluntários de Gonçalo anima as noites frias deste início de ano novo contando as tão tradicionais "Janeiras".
Trata-se de uma forma de reavivar esta secular tradição que possibilita o contributo dos Gonçalenses para uma causa que é de todos...
Em tempos tão conturbados e em que a tendência parecer ser a de "deitar a toalha ao chão" em face das dificuldades, os nossos Bombeiros mostram-nos como a capacidade de mobilização e de iniciativa podem fazer toda a diferença.
Possamos, pois, todos viver estas "Janeiras" com grande alegria e entende-las como um canto de incentivo a um ano novo cheio de projectos e concretizações... já que a boa vontade é o primeiro passo para que se possa alcançar um objectivo.
Mas, ao falar de "Janeiras" não consigo ceder à tentação de recordar os meus tempos de criança em que, tal como tantos outros, nos organizávamos em grupos para percorrermos a vila a cumprir aquilo que nos ensinaram ser uma "tradição".
A concorrência era feroz e, não raras vezes, competíamos seriamente com inovações. Lembro que os instrumentos eram, na maioria dos casos, caixas de papelão que serviam de bombos... Só numa fase muito posterior começaram a aparecer as violas, algumas daquelas de plástico que se compravam nas feiras ou na loja da Menina Sara (onde hoje é o escritório do Duarte) ou do Senhor Américo que, na altura do natal, recheavam as montras de brinquedos para todos os gostos...
Ainda hoje sei de cor a cantiga que cantávamos e não resisto a escrever a aqui a letra:

"Ainda agora aqui cheguei,
Já pus o pé na escada
logo o meu coração disse
que aqui mora gente honrada.
Levante-se lá senhora
desse banquinho de prata
venha-nos dar as janeiras 
que está um frio que mata.
Levante-se lá senhora
desse banquinho de cortiça
venha-nos dar as janeiras
ou morcela ou chouriça."

Ainda hoje não sei como aprendi isto, mas o que é certo é que toda a gente cantava assim. E, se nos fechassem a porta ou apagassem a luz, aí sim, é que era festa. Cantávamos assim e depois corríamos rua fora, não fossem atirar-nos com um balde de água fria :

"Estas casas são tão altas
forradas de papelão
Deus queira que venha uma ventania
e as deite todas ao chão"

ou ainda:
"Esterlinca martelinho
e torna a esterlincar
estas barbas de farelo
não tem nada para nos dar"

Hoje, os tempos são outros... Este ano, que lembre, apenas vi um grupinho de rapazes na rua a tirar as janeiras... E, é pois, por isso, que devemos valorizar muito a iniciativa dos nossos Bombeiros... pelo seu enorme contributo para a perpetuação no tempo desta linda tradição. 

Pedro Pires


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