sexta-feira, 21 de janeiro de 2011

Sobre as Eleições Presidenciais 2011...


«Num país indeterminado decorre, com toda a normalidade, um processo eleitoral. No final do dia, contados os votos, verifica-se que na capital cerca de 70% dos eleitores votaram branco. Repetidas as eleições no domingo seguinte, o número de votos brancos ultrapassa os 80%.»
                                         José Saramago, in "Ensaio Sobre a Lucidez"
Um dos piores cenários a ter em conta no nosso actual sistema político que se apelida de democrático é encarar a possibilidade de um dia poder vir a verificar-se uma rejeição total de todas as propostas eleitorais apresentadas. Estou certo  que tal acontecimento marcaria, indubitavelmente, o ponto da partida para uma verdadeira reflexão sobre o sistema político vigente, o seu carácter democrático ou antidemocrático, "a cegueira do povo" ou mesmo, até, porque não, "a sua repentina lucidez"...
E lembrei-me de tudo isto a propósito do acto eleitoral que terá lugar no próximo domingo. Efectivamente, há muito que reflicto acerca do conteúdo desta obra brilhante, sob ponto de vista literário e do pensamento político dos nossos dias, o "Ensaio Sobre a Lucidez", do saudoso José Saramago.
Nos tempos social e politicamente conturbados que vivemos, não estava à espera de vir a ser, nem por sombras, expectador de uma campanha eleitoral para as Presidenciais 2011 tão miserável e tão vazia de conteúdo político...
Não tenho, aliás, memória de uma campanha eleitoral tão fraca, tão tristemente pobre como aquela a que temos todos assistido.
Na verdade, o que me parece que tem vindo a ser valorizado nesta campanha é, única e exclusivamente, o poder presidencial de lançar ou não a "bomba atómica" da dissolução do parlamento. É como se o uso de tal competência do futuro Presidente da República, resumisse, enfim, todas as propostas de acção/actuação que um candidato tem a obrigação  de apresentar ao eleitorado.
Que pobreza!... Uma pobreza que se nota, ainda mais, quando se tentam deitar para o caldeirão da campanha presidencial ingredientes como BPN, BPP e outros tantos assuntos que tais...
Não tenho dúvidas que o confronto maior se centra em torno das figuras de Manuel Alegre e Cavaco Silva... pois na verdade trata-se de um confronto que vai muito além dos próprios candidatos e que entra muito para dentro das portas dos partidos políticos... O PSD vê na eleição de Cavaco Silva um estágio de preparação para as eleições legislativas que Cavaco, se vier a ser Presidente, há-de, com calma e paciência, cozinhar (cá se fazem, cá se pagam)...
O PS segue "Alegremente" de punho erguido mas arrastado, atrás de um candidato que se lhe impôs, estrategicamente, antes de tempo... e quanto a isto... não há nada a fazer...
Sempre tenho dito (e eu que nem gosto do Cavaco, nunca gostei) que teria sido mais útil à estabilidade do país e à sobrevivência do Governo que o PS tivesse optado pelo apoio ao Presidente Cavaco Silva... mas enfim, o que está feito, feito está...
A juntar à festa não posso deixar de comentar a singularidade da candidatura de José Coelho (o Tiririca da Madeira)  que, afinal de contas, é quem tem animado esta campanha com boa disposição e críticas à mistura "ridendo castigat mores" - "a rir a rir criticam-se os costumes" - Não era essa a técnica de Gil Vicente? O que é certo é que no meio de tanta "loucura" sobressaem, efectivamente, algumas verdades nuas e cruas... Acerca do candidato apoiado pelo PCP ... não teço comentários... no fim de contas a mensagem é sempre a mesma, a mensagem é sempre igual e desactualizada... será que ainda não deram conta disso?
É por tudo isto que termino com a reflexão com que iniciei este post. Não seria este um daqueles momentos em que se poderia aplicar o cenário do "Ensaio sobre a Lucidez"? E se se aplicasse? Será que resultaria daí uma nova esperança? Valerá a pena o voto em branco, pelo menos para fazer um aviso sério à navegação? Não sei... sinceramente não sei... mas acho que não.

Pedro Pires



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